“A poesia é um caminho que se faz para o imenso espaço do entendimento de si” entrevista com Abdul Hadi Sadoun

editora Urutau
4 min readFeb 7, 2021

113ª de uma série de entrevistas com as/os poetas da editora Urutau

por nósOnça

Abdul Hadi Sadoun (Bagdá — Iraque, 1968)

Qual é a sua definição íntima de poesia?

Sem poesia, a humanidade não caminha. Não se pode entender a natureza humana sem que ela esteja ligada a beleza e a poesia. A poesia é um caminho que se faz para o imenso espaço do entendimento de si e do mistério da vida. Por detrás da poesia, existe uma enorme fábrica de vidas.

Quando escreve, pensa em interlocutores? Sua escrita lhe afeta?

Eu escrevo em qualquer situação e em todos os tempos. Não programo os meus projetos literários, simplesmente dou um tempo para que eles saiam maduros. Sinceramente, penso mais no texto do que em qualquer outra coisa. Meus poemas representam minha voz e a minha identidade, através deles entendo as minhas intenções e inquietudes.

Quais são os/as poetas da atualidade/vivos/vivas que mais lhe tocam nesse momento?

São muitos, árabes e do mundo afora, sobre todo as vozes clássicas. Mas se tenho que mencionar alguns modernos, eu diria os espanhóis Antonio Gamoneda, Juan Carlos Mestre e entre os iraquianos Hassab al Shaij e o recém falecido Sargun Boulus.

Você é um poeta iraquiano que vive em Madri, o fato de ser estrangeiro influi na sua criação literária?

Sem dúvida que influi muito ser exilado de tua terra e estrangeiro, a pesar dos anos vivido no país, te condiciona em alguns temas linguisticos. Mas acima de tudo te outorga a magia de misturar dois mundos e duas culturas em em uma única perspectiva. Já que não posso mudar o destino e nem a realidade, tento aproveitar de tudo que me dá essa dupla identidade para variar minhas ferramentas de escrita e opinião.

O seu poema nasce de súpeto, como algo que golpeia e sai de uma maneira explosiva e rápida ou é um processo mais pausado e longo?

As duas formas ocorrem na minha escrita, em alguns poemas tardo muito tempo em um processo lento até que termine de uma maneira que me satisfaça. No entanto, outros surgiram como uma faísca ou em um momento contemplativo breve. A criação tem os seus mistérios e não há explicações lógicas que possam defini-las.

Todos escrevem sobre o amor menos tu (tradução de Manuel Neto Santos) (editora Urutau, 2021)

O seu livro, Todos escrevem sobre o amor menos tu, como ele surgiu? E como nasceu seu vinculo com o tradutor e poeta Manuel Neto dos Santos?

É um livro de muitos anos, além do mais é o meu primeiro livro em espanhol depois de 25 anos convivendo com essa língua. Toda a minha produção foi e é em árabe, a minha língua materna, mas este livro nasceu da necessidade que eu tinha de me expressar em uma outra língua (adquirida sim, mas minha também) e não foi uma ideia concreta, escrevi ele em tempos distintos , de forma solta e com uma linha comum. O título é o enfoque geral de todos os poemas. O tradutor e poeta Manuel Neto Santos nos conhecemos há tempos, a ideia surgiu sem nenhum trato ou projeto comum, um dia ele me surpreendeu com a tradução. Por sua generosidade, hoje desfruto em ver a minha poesia entre distintos leitores e em novas terras.

Como você conheceu a editora Urutau?

Nas minhas participações em festivais com os poetas galegos, vi que a Urutau está presente como uma referência de novidade e excelência. No último Festival de Allariz, tive a oprtunidade de ver as publicações da Urutau e em seguida comecei a seguir a editora nas redes sociais, vi as dimensões de um grande selo em auge.

Alguma observação que queira acrescentar?

Que a vida siga a pesar de tudo e a literatura não morre enquanto continuamos lendo.

Abdul Hadi Sadoun

(Bagdá/Bagdade — Iraque, 1968)

Escritor, tradutor e hispanista. Atualmente reside em Madrid. É doutor em Filosofia e Letras pela Universidad Autónoma de Madrid (UAM). É autor de uma longa lista de livros, tanto em árabe como em espanhol, entre os quais se destacam: Escribir en cuneiforme (2006), Plagios familiares (2008), Pájaro en la boca y otros poemas (2009), Siempre todavía (2010), Campos del extraño (2011) e Memorias de un perro iraquí (2016). Sua obra literária foi traduzida para o inglês, francês, italiano, persa, curdo e catalão. Como tradutor, ele traduziu grandes nomes em letras espanholas para o árabe, como Lorca, Alberti, Machado, Jiménez, Aleixandre ou Borges. A sua obra poética foi reconhecida com a II Beca Internacional Antonio Machado (Soria, Espanha, 2009), a nomeação como convidado de honra da Cidade de Salamanca (2016) e a distinção IX Poetas de Otros Mundos (Fondo Poético Internacional, 2016).

https://abdulsadoun.blogspot.com/

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